Doenças mentais estão entre as que mais afastam brasileiros do trabalho
Depressão lidera as 10 principais causas de incapacitação; outras 4 patologias semelhantes estão no topo da lista
Simone Iwasso
As doenças mentais são responsáveis por cinco das dez principais causas de afastamento do trabalho no País - sendo a primeira delas a depressão -, o que representa um gasto de R$ 2,2 bilhões por ano, o equivalente a 19% dos custos com auxílios-doença pagos pela Previdência Social a um universo de 1,5 milhão de pessoas. Os números aparecem num levantamento sobre a infra-estrutura dos serviços de saúde mental no Brasil feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em parceria com o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O estudo foi divulgado ontem no seminário Ação Global para o Aprimoramento Mundial da Saúde Mental, parte de uma iniciativa da publicação científica inglesa The Lancet, que neste mês compilou uma série de artigos sobre saúde mental e seus impactos em vários países, entre eles o Brasil.
“As doenças mentais são as que mais incapacitam as pessoas e os gastos com a assistência representam apenas 2% do orçamento do Ministério da Saúde. Observamos um grande descompasso entre o impacto das doenças e o investimento no cuidado com elas”, afirma o psiquiatra Jair Mari, professor da Unifesp e responsável pela pesquisa. Ele enumera os problemas: depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar, abuso de álcool e episódios de violência, que podem estar relacionados com várias patologias.
Sem diagnóstico precoce, sem acompanhamento adequado, essas pessoas aparecem na rede quando já estão totalmente incapacitadas e as doenças atingiram um estágio crônico. “Para lidarmos com tudo isso, o relatório aponta para a necessidade de essa fatia do orçamento aumentar para cerca de 5%, para conseguirmos melhorar a rede de atendimento, principalmente a atenção primária, que pode ser feita em parceira com as equipes do Programa Saúde da Família, que precisam ser treinadas”, completa.
Esse é justamente um dos principais desafios apontados pelo estudo: apesar de a rede estar aumentando, ainda não há locais suficientes para assistência a portadores de transtornos mentais. A oferta cresceu depois do início da reforma psiquiátrica, que prevê a desativação dos antigos manicômios por centros de atendimento psicossocial, chamados Caps, e por leitos de internação em hospitais gerais.
“A gente tem os dados do sistema, mas muita gente nem chegou a entrar nas estatísticas, fica trancada em casa, incapacitada. Há um estigma muito forte, as famílias ainda não sabem o que fazer e os profissionais do Saúde da Família conseguem chegar aonde a rede de atendimento não chega, eles vêem essas pessoas, mas não estão preparados para diagnosticá-las e tratá-las”, conta Ana Maria Pitta, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
“Na minha família existem pelo menos 30 bipolares. Eu tenho a doença, minha filha também tem. Os serviços psiquiátricos públicos são terríveis. Ninguém em surto pode ficar meses esperando”, conta a filósofa Cássia Janeiro, de 44 anos, que acredita que falta conscientização e uma maior seriedade dos próprios profissionais da saúde para lidarem com os pacientes.
“Dentro de casa o tratamento é inadequado, as pessoas comuns não sabem o que fazer com um doente mental. Há um preconceito muito grande com a doença psiquiátrica. O sujeito que bebe e chega alcoolizado ao hospital não é simplesmente um bêbado vagabundo”, diz ela, que está escrevendo um livro sobre o convívio com a doença.
CONCENTRAÇÃO
Outro problema é a distribuição desigual tanto dos serviços quanto dos especialistas: somente em São Paulo, há quase o dobro dos psiquiatras de todo o restante do País. Atualmente, existem 5,2 mil psiquiatras em exercício no Brasil, uma média de 2,83 profissionais para cada 10 mil habitantes. Na América Latina, são 4,66 profissionais para cada 10 mil habitantes.
Os transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho resultam ,assim,não de fatores isolados ,mas de contextos de trabalho em interação com o corpo e aparato psíquico dos trabalhadores.As ações implicadas no ato de trabalhar podem atingir o corpo dos trabalhadores,produzindo disfunções e lesões biológicas ,mas também reações psíquicas às situações de trabalho patogênicas ,além de poderem desencadear processos psicopatológicos especificamente relacionados às condições do trabalho desempehado pelo trabalhador.
Em decorrência do lugar de destaque que o trabalho ocupa na vida das pessoas ,sendo fonte de garantia da subsistência e de posição social ,a falta de trabalho ou mesmo a ameaça da perde de emprego geram sofrimento psíquico ,pois ameaçam a subsistência e a vida material do trabalhador e de sua família.Ao mesmo tempo abala o valor subjetivo que a pessoa se atribui ,gerando sentimentos de menos-valia,angústia,insegurança,desânimo e desespero,caracterizando quadros ansiosos e depressivos.
O atual quadro econômico mundial,em que as condições de insegurança no emprego,subemprego e a segmentação do mercado de trabalho são crescentes ,reflete-se em processos internos de reestruturação a produção ,enxugamento de quadro de funcionários ,incorporação tecnológica,repercutindo sobre a saúde mental dos trabalhadores.
O trabalho ocupa,também.um lugar fundamental na dinâmica do investimento afetivo das pessoas.Condições favoráveis à livre utilização das habilidades dos trabalhadores e ao controle do trabalho pelos trabalhadores têm sido identificadas como importântes requisitos para que o trabalho possa proporcionar prazer,bem-estar e saúde,deixando de provocar doenças.Por outro lado,o trabalho desprovido de significação ,sem suporte social ,não reonhecido ou que se constitua em fonte de ameaça à integridade física e/ou psíquica ,pode desencadear sofrimento psíquico.
Situações variadas como um fracasso ,um acidente de trabalho ,uma mudança de posição (ascenção ou queda) n a hierarquia frequentemente determinam quadros psicopatológicos diversos ,desde os chamados transtornos de ajustamento ou reações ao estresse até depressões graves e incapacitantes ,variando segundo características do contexto da situação e do modo do indivíduo responder a elas.
O processo de comunicação dentro do ambiente de trabalho ,moldado pela cultura organizacional ,também é considerado fator importante na determinação da saúde mental .Ambientes que impossibilitam a comunicação espontânea,a manifestação de insatisfações ,as sugestões dos trabalhadores em relação a organização do trabalho ou ao trabalho desenpenhado provocarão tensão e ,por conseguinte ,sofrimento e distúrbios mentais.Frequentemente,o sofrimento e a insatisfação do trabalhador manifestam-se não apenas pela doença ,mas nos índices de absenteísmo,conflitos interpessoais e extratrabalho.Os fatores relacionados ao tempo e ao ritmo de trabalho são muito importântes na determinação do sofrimento psíquico relacionado ao trabalho.Jornadas de trabalho longas,com poucas pausas destinadas ao descanso e/ou refeições de curta duração,em lugares desconfortáveis ,turnos de trabalho noturnos ,turnos alterados ou turnos iniciando muito cedo pela manhã;rítimos intensos e monótonos;submissão do trabalhador ao ritmo de máquinas ,sob as quais não tem controle ;pressão de supervisores ou chefias por mais velocidade e produtividade causam ,com frequência ,quadros ansiosos,fadiga crônica e distúrbios do sono.
O processo de comunicação dentro do ambiente de trabalho ,moldado pela cultura organizacional ,também é considerado fator importante na determinação da saúde mental .Ambientes que impossibilitam a comunicação espontânea,a manifestação de insatisfações ,as sugestões dos trabalhadores em relação a organização do trabalho ou ao trabalho desenpenhado provocarão tensão e ,por conseguinte ,sofrimento e distúrbios mentais.Frequentemente,o sofrimento e a insatisfação do trabalhador manifestam-se não apenas pela doença ,mas nos índices de absenteísmo,conflitos interpessoais e extratrabalho.Os fatores relacionados ao tempo e ao ritmo de trabalho são muito importântes na determinação do sofrimento psíquico relacionado ao trabalho.Jornadas de trabalho longas,com poucas pausas destinadas ao descanso e/ou refeições de curta duração,em lugares desconfortáveis ,turnos de trabalho noturnos ,turnos alterados ou turnos iniciando muito cedo pela manhã;rítimos intensos e monótonos;submissão do trabalhador ao ritmo de máquinas ,sob as quais não tem controle ;pressão de supervisores ou chefias por mais velocidade e produtividade causam ,com frequência ,quadros ansiosos,fadiga crônica e distúrbios do sono.
Os níveis de atenção e concentração exigidos para a realização das tarefas ,combinados com o nível de pressão exercidos pela organização de tarefas,combinadas com o nível de pressão exercido pela orgaização do trabalho ,podem gerar tensão ,fadiga e esgotamento profissional ou burn-out(traduzido para o português como síndrome do esgotamento profissional ou estafa).
Estudos têm demostrado que alguns metais pesados e solventes podem ter ação tóxica direta sobre o sistema nervoso ,determinando distúrbios mentais e alterações do comportamento ,que se manifestam por irritabilidade ,nervosismo,inquietação,distúrbios da memória e cognição,inicialmente pouco específicos e,por fim, com evolução crônica,muitas vezes irreversível e incapacitante.
Os acidentes de trabalho podem ter consequências mentais quando,por exemplo,afetam o sistema nervoso central,como nos traumatismos crânio-encefálicos como concussão e/ou contusão.A vivência de acidentes de trabalho que envolvem risco de vida ou que ameaçam a integridade física dos trabalhadores determinam ,por vezes,quadros psicopatológicos típicos ,caracterizados como síndromes psíquicas pós-traumáticas.Por vezes,surgem síndromes relacionadas à disfunções ou lesão cerebral ,sobrepostas a sintomas psíquicos,combinando-se ainda à deterioração da rede social em função de mudanças no panorama econômico do trabalho,agravando os quadros psiquiátricos.
LISTA DE TRANSTORNOS MENTAIS E DO COMPORTAMENTO
RELACIONADOS AO TRABALHO,DE ACORDO COM A PORTARIA /MS Nº:1.339/1999
* demência em outras doenças específicas classificadas em outros locais(F02.8)
*Delirium ,não-sobreposto à demência,como descrita(F05.0)
*Transtorno cognitivo leve(F06.7)
*Transtorno orgânico de personalidade(F07.0)
*Transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado (F09.0)
*Alcoolismo crônico(relacionado ao trabalho)(F10.2)
*Episódios depressivos(F.32)
*Estado de estresse pós-traumático(F43.1)
*Neurastenia(inclui síndrome da fadiga)(F48.0)
*Outros transtornos neuróticos especificados(inclui neurose profissional)(F.48.8)
*Transtorno do ciclo vigília-sono devido a fatores não-orgânicos(F51.2)
*Sensação de estar acabado (síndrome de burn -out,síndrome do esgotamento profissional)(Z73.0)
A prevenção dos transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho baseia-se nos procedimentos de vigilância dos agravos à saúde e dos ambientes e condições de trabalho.Utiliza conhecimentos médicos-clínicos,epidemiológicos,de higiene ocupacional,toxicologia,ergonomia,psicologia ,entre outras disciplinas,valorizar a percepção dos trabalhadores sobre seu trabalho e a saúde baseiase nas normas técnicas e regulamentos videntes envolvendo:
-reconhecimento prévio das atividades e locais de trabalho onde existam substâncias químicas,agentes físicos e/ou biológicos e os fatores de risco decorrentes da organização do trabalho potencialmente causadores das doenças.
-reconhecimento prévio das atividades e locais de trabalho onde existam substâncias químicas,agentes físicos e/ou biológicos e os fatores de risco decorrentes da organização do trabalho potencialmente causadores das doenças.
Muito boa a matéria, só precisaria que vc tivesse feito as citações, pois eu preciso referenciar teoricamente minhas conclusões em um relatório clínico que tenho que emitir para ser apresentado ao INSS...
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